No dia 19 de janeiro de 2001 o Grupo Folha anunciava por meio de nota oficial o encerramento das atividades do jornal Notícias Populares — o famigerado NP. Na época em que a internet e os portais que atualmente estampam o hard news estavam longe da rotina dos brasileiros, era ele que fazia a alegria dos jornaleiros. As manchetes bizarras, que traziam sempre o fato mais inusitado, o fictício de forma implícita em alguns casos, reuniam aglomerados de pessoas em frente às bancas para ler a capa do dia. “Bebê-diabo do ABC pesa 5 quilos”, “Aumento de merda na poupança”, além da clássica “Broxa torra o pênis na tomada”, foram algumas das notícias que puderam ser lidas durante o período de publicação do jornal.

Apontada simultaneamente como mártir e vilã da imprensa nacional, a história do NP é permeada por investimentos inovadores, sensacionalismo e comoção popular. O jornal foi um dos poucos casos de veículos impressos a atingir uma tiragem de grandes proporções e, encerrada aos 38 anos, a publicação hoje figura no hall do jornalismo brasileiro como uma experiência mal vista do ( e pelo) Grupo Folha.

Foi neste ambiente que o jornalista Marcelo Orozco atuou como repórter, editor de esportes e ajudou a escrever as manchetes do Jornal na história. Recém formado, ele despontou logo no primeiro ano de profissão como um nome de peso dentro da redação do NP.

- Em quais veículos trabalhou antes do NP?

Marcelo Orozco: Me formei em 1989 e entrei para o NP em janeiro de 1991. Foi meu primeiro emprego como jornalista. Antes disso, tive apenas experiências sem ser funcionário do veículo. Fui estagiário no jornal Gazeta Esportiva em 1989 e free-lance do caderno de variedades da Folha da Tarde entre outubro de 1990 e janeiro de 1991. E fiz colaborações com textos sobre música para publicações da editora Imprima, em 1986 e 1987, e para o Jornal do Cambuci, de 1989 a 1991.

-Qual foi sua reação diante da proposta do Veículo? Houve algum tipo de adaptação marcante devido às suas experiências profissionais anteriores?

M.O.: Já tinha tido contato anterior com o funcionamento do NP nos tempos de faculdade, em 1986, quando houve um trabalho em grupo de perfil de um dos secretários de redação da época - uma fase "NP antigo", antes da reforma editorial modernizadora. E, já na fase pós-reforma, tinha contato corrente com dois colegas de faculdade que já estavam na equipe do NP e que acabaram ajudando na minha entrada no jornal.

A adaptação marcante foi mais por entrar no método de trabalho de jornalismo diário, um ritmo e uma experiência que você realmente não aprende na faculdade nem fazendo trabalhos esporádicos ou sem o compromisso de fazer parte da equipe. Editorialmente, sempre simpatizei com a noção de produzir jornalismo mais direto e com uma linguagem simples para um público de baixa renda com acesso limitado a formas escritas de informação.

E, como fui trabalhar na editoria de esportes, área na qual já tinha tido uma experiência prévia, não houve maior problema de adaptação além do que citei acima.

- Como foi o processo para se tornar editor do Jornal? Passou pelo processo tradicional repórter-editor?

M.O.: Entrei num período de constante transformação e transição do "velho NP" para o "novo NP", a transição das reformas editorial e gráfica. Essa transição implicou numa fase de frequentes mudanças de pessoal. Esse processo foi bastante agudo na editoria de esportes. Ingressei como repórter em janeiro de 1991. Por causa das tais mudanças de pessoal, em agosto de 1991 já me vi colocado na função de sub-editor ou editor assistente. E nela fiquei por dois anos, passando a editor de esportes em setembro de 1993, quando o editor Paulo César Martin assumiu o cargo de secretário de redação do jornal.

No todo desse processo, independentemente dos cargos, as lições mais valiosas foram de o que é importante e fundamental numa matéria (seja um abre de página, seja uma nota de uma coluna), como montá-la, como apresentá-la da melhor forma (título, foto, como estruturar o texto, boxes, subs com mais informações ou lembrando algo histórico que se relaciona ao assunto), o que buscar nas fontes entrevistadas, o que ressaltar de contexto sobre aquele assunto, qual a declaração que rende o gancho, qual o lead mais certeiro, informativo e enxuto, buscar o ângulo mais singular, que não será o mesmo que os outros jornais vão dar... Enfim, coisas que fui aprendendo em todas as fases. Não houve lições só como repórter, nem só como sub-editor nem só como editor.

- Entre 1991 a 2000, quais foram as mudanças mais drásticas pelas quais o Notícias Populares passou (tanto administrativas como jornalísticas)?

M.O.: Ao longo de 1991, o NP conviveu com a ameaça de "ensacamento" por causa de um processo movido pela Vara do Menor (recomendo a checagem sobre o nome oficial e exato; não me lembro agora se o nome oficial desse departamento judiciário era exatamente este, mas era uma promotoria de proteção aos menores e à família). O processo aberto pedia a venda do NP em sacos plásticos lacrados, como revistas pornográficas, por seu suposto conteúdo ofensivo e imoral. Se isso tivesse acontecido, decretaria a morte do jornal naquela época, pois era economicamente inviável para a empresa manter o NP com esse custo adicional de lacrar com plástico milhares de exemplares.

Essa fase fez com que o jornal "aliviasse" um pouco o tratamento das matérias, o uso de palavras e a publicação de fotos mais chocantes (algo que aconteceu bastante entre o início da reforma em 1990 e a abertura desse processo). Acredito que a atenuação acabou sendo benéfica para o próprio jornal, que embora tenha mantido seu espírito básico de ser diferente em seus enfoques, passou a ter um autocontrole mais sóbrio. No fim, o NP ganhou a causa em novembro de 1991. E manteve a linha atenuada.

As principais mudanças foram as do cargo de editor-chefe. Laura Capriglione saiu em 1991 pouco após a abertura do processo do ensacamento por discordar da orientação de atenuar a apresentação do conteúdo. Alvaro Pereira Jr. assumiu a função e ficou até 1995, quando foi para o programa Fantástico, onde está até hoje. Eliane Silva foi sua substituta e fez um jornal mais comedido, ficando até 1997. O último editor-chefe foi Fernando Costa Netto, ex-revista Trip, que buscou uma reputação mais pop, cult e cool do jornal, procurando expandi-lo para camisetas, eventos e outras atividades promocionais que tiveram algum resultado positivo.

Em setembro de 2000, a empresa proprietária promoveu uma mudança radical subordinando o NP ao recém-fundado Agora. Fernando Costa Netto preferiu sair. Outras pessoas também saíram nesse momento, eu inclusive. Os restos combalidos do jornal resistiram até janeiro de 2001, quando foi definitivamente "descontinuado".

Mas o fechamento do jornal se deveu à queda na tiragem que se devia mais ao crescimento da crise econômica no segundo mandato de FHC e à política de distribuição do jornal e a infraestrutura proporcionada do que à linha adotada por seus editores-chefes.

- O que fez depois do NP e qual seu trabalho atual?

M.O.: Fui para o site de entretenimento El Foco, que teve vida curta e fechou em 2001. Passei pelo programa Esporte Espetacular, da TV Globo. Pela revista Tudo, da Editora Abril. Pelas revistas Crocodilo e 10 (sobre futebol), na editora Conrad. Pela revista Jovem Pan, da editora Bregantini. Participei na redação da cobertura da Copa do Mundo de 2006 no UOL. E, desde julho de 2006, estou na revista VIP, da Abril, como editor da seção Preliminares, de assuntos gerais.

Fragmentos de um jornalista-escritor


Ao longo de sua carreira, Orozco já participou de realizações além-redação, como o livro biográfico de Kurt Cobain. Sobre essa experiência ele confessa a realização e como transformou o material que havia coletado como fã em trabalho.


- Sobre o lançamento do livro “Fragmentos de uma Autobiografia - Kurt Cobain”, como foi essa experiência? Se fosse fazer outro projeto sobre música, de quem seria?

M.O.: A (editora) Conrad me procurou no meio de 2001 com a proposta de elaborar o livro da forma como saiu (análise das letras ligadas à biografia de Kurt Cobain). Eu era interessado em Nirvana e tinha amigos em comum com o pessoal da Conrad (Rogério de Campos e André Forastieri, os quais eu também conhecia anteriormente), por isso eles me lançaram a idéia. Foi uma experiência gratificante. Trabalhosa no sentido de botar uma ordem em todo o material que eu já tinha separado apenas como apreciador e em todo o material novo que fui pesquisar. Mas gostei. E foi recompensador ter feedback de quem leu o livro.

Já me perguntaram várias vezes sobre quem mais eu gostaria de escrever a respeito. Teria muita gente, mas não sei mesmo.


-Pretende lançar mais algum livro?

M.O.: Complementando, estou deixando ao sabor dos ventos. Quando aparecer uma circunstância e um objeto de interesse que me instigue como ocorreu no caso do livro sobre o Cobain, eu gostaria de fazer. Teria um estímulo mais prazeroso. O que não gostaria é de produzir outro livro apenas por obrigação.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entre o ideal e o possível

Após muito tempo sem postar nada, a vontade de voltar aqui cresceu, proporcinalmente à falta de tempo.

Pois bem, depois de algumas cervejadas homéricas, uns freelas for free, episódios da 5º temporada de Supernatural, fechamento de alguns Cadernos de Programação, eis que chega o 4º bimestre na faculdade para me colocar mais perto de ser um formando em jornalismo. Como prova de uma disciplina, tive que fazer uma matéria falando sobre o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Estava nas minhas mãos seguir o enunciado da única questão e fazer uma coisa sem sentido de até 30 linhas (sim, uma pseudo matéria de até 30 linhas), ou fazer algo que fosse mais instigante -ainda mais para colocar a consciência de quem faltou bastante às aulas em dia.

Como resultado surgiu o texto abaixo e um tipo de satisfação besta, mas, ainda assim, satisfação.




Entre o TCC ideal e o possível


Bicho de sete cabeças para os pouco íntimos ou realização de uma etapa que atesta a maturidade desenvolvida pelos alunos para os mais acostumados, o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) se torna parte da realidade para os acadêmicos dos últimos anos dos cursos de graduação e culminam no tão aguardado momento: a apresentação.
O desenvolvimento do projeto acaba interferindo diretamente nas rotinas dos acadêmicos por quase um ano, e, ao final do período, os trabalhos são submetidos à avaliação de uma banca examinadora, que dirá, em números, qual grau de profissionalismo o aluno atingiu.
“Levantei, me benzi e tomei um café da manhã reforçado para não desmaiar”, conta o graduando em jornalismo, Gabriel Câmara, sobre seu ritual para a manhã em que apresenta o TCC.

Faltando menos de uma hora para dar início à exposição à banca, ele, com postura contrária ao estereótipo de aluno ansioso diante de um momento decisivo, exibe o documentário “Profissão Roadie” – dedicado aos trabalhadores que auxiliam no carregamento, afinação e manutenção dos instrumentos e aparelhos utilizados em shows –, realizado em parceria com o amigo Gilmar R. Silva, para uma pequena platéia, composta por amigos e curiosos.

Após 30 minutos, o outro autor do documentário sobre os profissionais dos backstages, Gilmar R. Silva, retorna à sala depois de ter saído para imprimir o material que seria disponibilizado para a comissão examinadora. “Me esqueci da água”, lembra em voz alta e, quase imediatamente, retorna colocando três garrafas de água mineral sobre a mesa. “Não dormi mais que três horas esta noite. Quero que comece logo e não quero errar”, diz entre ironia e sinceridade, enquanto se concentra para os minutos seguintes. Mais agitado, mas nem por isso menos focado que seu parceiro, Silva se retira do auditório onde o filme é exibido.

A menos de cinco minutos para iniciar o momento que divide o fim da expectativa gerada pelo tempo de trabalho com o pouco que resta da condição de universitário, Câmara revela um pouco sobre a apresentação. “Ensaiamos duas vezes em duas horas, o que denuncia que a apresentação está um pouco longa”.
Luzes apagadas, auditório cheio, trailer em exibição: o rosto de Gilberto Gil com quase dois metros no telão explica qual a importância de um roadie nas equipes que realizam as montagens de shows. Em seguida os próprios profissionais dando depoimentos sobre a vida na estrada – boa parte fala enquanto trabalha em meio aos cases e fios que compõem o cenário de atuação destes profissionais – e fim do trailer. Com a apresentação fluindo sem tropeços e com riqueza nas descrições dos detalhes, inserem José Carlos Sebe Bom Meihy e Glauber Rocha para embasar o documentário.

Afinado com o mercado jornalístico, o discurso dos graduandos mostra a preocupação com o ato de ir além de um trabalho acadêmico, quando eles revelam que o documentário, por se tratar de uma obra inédita sobre um tema praticamente inexplorado, será disponibilizado no site de vídeos Youtube no dia seguinte e, que, devido a esta ação responsável por transformar o TCC em um documentário de mercado, o trabalho já havia recebido recomendações em dois importantes veículos sobre música: no site da revista Rock Press, e no blog do editor do potencial maior site de cultura POP do País, o Scream&Yell, mantido pelo jornalista Marcelo Costa.

O evento segue com as considerações da banca, agradecimentos dos graduandos e um subentendido mal estar do público presente que discordou das falas e sugestões feitas por um dos professores. Fica então definida como nota oficial da dupla o valor 9,4, o que os distancia da sonhada nota dez no TCC, porém explicita como as questões relativas ao Trabalho de Conclusão de Curso funcionam na prática. “O TCC é mais que uma nota, é um trabalho para o qual você se dedica de verdade”, diz Silva, que ainda ressalta o dez, mesmo que simbólico, recebido de um dos membros da banca em meio a um abraço dado após a apresentação. "A gente até ganhou um dez simbólico, ao pé do ouvido, de um dos membros da banca.Mas no final quando você para e vê o tanto de gente que comprou o projeto e torceu pra você, a nota acaba sendo só mais um detalhe".


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Em ritmo de Gafieira

A ironia da vida sempre acontece. Disso eu sei, mas às vezes ela acontece quando e da forma que menos se espera. Em 2004 me caiu nas mãos uma tal de Revista Zero [ ]. Era a edição #4, que tinha o Sepultura na capa e uma chamada que despertou minha atenção: “Ryan Adams enche a cara, liga pra redação e pede um emprego”. Quando bati o olho nela já pensei “opa!, faltou um ‘B’ aqui antes do nome do cara”, achando que eles estariam fazendo referência ao Bryan Adams. Ledo engano.
Realmente existia (e ainda existe!) um cara chamado Ryan Adams. Lendo a entrevista feita com ele, comecei a ficar atento ao trabalho do cara. O texto falava em Alt. Country, relacionamentos tortuosos, música folk e do processo de composição dele. Fiquei interessado e fui conferir o tal álbum daquele filho bastardo do Bob Dylan. Depois de virar fã confesso da obra dele, vi que não era só a música em si que havia me chamado pra conhecer, mas o texto do cara que havia feito a entrevista. Era, visivelmente, escrito por alguém apaixonado pelo que fazia. Esse tal alguém era o Alexandre Petillo.
Após perceber qual era o processo da coisa (artista bacana com matéria bacana gera reconhecimento do público com ambas as causas) fui atrás de mais textos do tal jornalista. Foi aí que começa minha saga com o Gafieiras.
A questão é que o site tinha um staff de colunistas com ótimas reflexões e uma escrita que me fazia querer devorar de uma vez toda aquela quantidade de texto. Aí começou a cair a minha ficha que eu não queria somente ler aqueles caras, mas queria escrever como eles. Na sessão de Colunas do site, todos me chamaram a atenção, mas em especial o Alexandre Matias e o Sérgio Seabra. O jeito do primeiro comentar discos, que iam desde detalhes aos valores artísticos presentes em cada álbum, e a crônica/prosa/poesia do segundo, era o que mais me chamava atenção neles.
Muito bem, passados alguns anos, entrei na faculdade de jornalismo – ação que atribuo uma parte da culpa aos caras que li – e, no terceiro ano de curso, após passar pelo processo seletivo do SESC, consegui enfim o sonhado estágio. Tudo estava muito bem, até que um dia navegando pelo meu roteiro de sites sobre cultura (que ainda vou postar aqui) resolvi entrar no Gafieiras novamente. Minha surpresa foi grande ao perceber que o tal de Sérgio Seabra do Gafieiras era o coordenador da programação de atividades do SESC em que faço estágio.
Após me identificar pra ele como leitor da coluna, por meio de um simpático "mas como você não me disse antes que era o Seabra do Gafieiras?”, comecei a interrogá-lo sobre o trabalho dele no site e sobre quais outros já havia feito.
Ainda bem que o Sérigo Seabra é uma pessoa paciente e receptiva, porque passei o endereço do blog pra ele dar uma olhada e consequentemente uns toques sobre o que deveria melhorar no meu texto. No dia seguinte fiquei sabendo que o Seabra havia indicado meu nome (e mostrado o blog) para o Ricardo Tacioli, idealizador do Gafieiras. Minha cara foi ao chão. Eu fiquei sem saber se agradecia ou se dizia a ele que eu não estaria à altura do site. Passado o dramalhão de estagiário, em questão de um dia acabei conhecendo o twitter do Gafieiras e em um dos posts descobri que havia a possibilidade de se participar do CincoPraUma , uma coluna fixa e aberta à participação de colaboradores. Aquela foi a deixa. Mandei a direct message pro perfil. Hoje minha seleção feita para a coluna já está no ar!
É óbvio que poder conviver com uma sumidade e ainda ter a chance de colaborar com o Gafieiras é para mim parte da realização de um sonho de moleque aspirante a jornalista que eu era em 2005/6 e que ainda continua louco pra aprender a escrever como gente grande.
Meu CincoPraUma aqui.

Ócio

Agindo como se eu já não tivesse muita coisa para fazer - o que não necessariamente caracteriza o ato de vagabundear- , descobri um site com ferramentas bacanas para desenhar on line. Na minha sessão "teu passado te condena" consta um ano de curso de artes plásticas, que eu deixei fugindo pela porta dos fundos e com medo dos academicismos. Apesar dos pesares, fica difícil não ter a sessão nostalgia quando encontro um lápis e um papel canson, como é o caso da prancheta virtual no Odosketch.

O mais legal de clicar no link pro desenho é que mostra o passo-a-passo da realização dele, desde os primeiros traços, até mesmo os que foram apagados em alguma etapa. Com isso, eu perdi uma meia hora destinada para fazer coisas mais úteis e também o medo de desenhar com o mouse. Ah! também percebi que o ócio é necessário para a vida. E muito.

Clique na imagem para ver o desenho no site.

Personagem ímpar na história da imprensa nacional, Renan Antunes de Oliveira é o calo no sapato de muita gente. Com um Prêmio Esso no currículo, ele trabalhou em meio mundo de veículos e não satisfeito com isso, chutou boa parte deles em nome de independência (se você fez cara de “isso existe?”, então somos dois).
Independentemente de eu concordar ou não com esse lance de ser livre pra dizer o que quiser no mundo da “liberdade de empresa”, como diria Clóvis Rossi, nem sobre pensamentos esquerdistas tão totalitários quanto os de direita, Antunes é um cara que sabe onde pisa e mesmo agindo com o pensamento de esquerda, tem a consciência de admitir o que acontece para poder criticar o cenário composto pela imprensa nacional.
Mais que um bom crítico, ele conhece a estrutura, dá a cara a tapa e deveria figurar entre os grandes nomes da imprensa (sim, aqueles tidos como mestres nas universidades), pois pensa o jornalismo de um modo que poucos se atrevem à fazê-lo. Seguem abaixo alguns trechos de uma entrevista feita com ele pelo site Fazendo Media:


RENAN ANTUNES DE OLIVEIRA

Vencedor do prêmio Esso de
Reportagem.

Breno Costa – Você trabalhou na Veja, na Istoé, no
Estadão. Você sempre teve essa postura combativa?

A postura combativa é até
um elogio desnecessário a essa altura do campeonato. Não é isso. É crítica o que eu quero dizer. Por exemplo, eu fui trabalhar na Veja na época em que se fez aquela campanha do Collor. Então, eu entrei para cobrir aquela campanha, era um dos repórteres de Política...


Mariana Vidal – Quanto tempo você
trabalhou lá?

Eu tinha 40 anos quando eu estava na Veja. Aí eu cheguei e fui trabalhar lá e vi todo mundo, gente como vocês, novos, recém-formados e entrando, trabalhando, tal... E a empresa mesmo trabalhando a favor do Collor.

Breno Costa – E a Redação era contrária a Collor?
Os jornalistas sempre têm esse discurso de esquerda. No discurso. Na prática, todo
mundo quer viver bem. Os jornalistas têm esse discurso crítico, mas quando ganham bem, eles dão o discurso no bar, mas chega na redação, na hora de escrever, se o patrão mandar mudar eles mudam. Aí vem a coluna vertebral dessa profissão. "É como dupla caipira: se você pagar eles tocam", frase do Ricardo Kotscho. Se você pagar um jornalista e disser para ele: "Olha, me escreve aqui a história do Che Guevara". Se te pagar, tu vai lá e escreve. Aí você volta dizendo que o Che era um revolucionário, etc. Mas o patrão: "Não gostei. O Che era veado". Aí você vai lá: "O Che, com suas relações homossexuais....". A Veja faz assim, entendeu? O cara escreve e prova a tese de que o Che era veado, se eles quiserem!


Breno Costa – Voltando à Veja, ela tem uma diferença marcante em relação a outras revistas semanais. Inclusive, no meio jornalístico, ela é bastante criticada. Eu queria saber qual é essa diferença e como isso se dá.
Gente, se vocês querem ser jornalistas na vida, esqueçam qualquer modelo já visto e olhado. A gente, quando está na faculdade, quer visitar tal jornal e tem gente que vai lá e faz um estagiozinho. Claro que a gente tem que ver, tem que saber, mas leiam os jornais velhos, peguem uma Veja velha e dêem uma lida e tirem suas conclusões. Então, eu não queria trabalhar, o troço não funcionava e eu comecei a mandar um freela para revista, pro Estadão... E aí fiz tudo sozinho! Aí me dirão: talvez por isso sua carreira tenha sido um fracasso, que tu tenha chegado aos 55 pra ganhar um miserável Prêmio Esso, enquanto qualquer outro recém-saído da faculdade, trabalha 20 anos na Folha, no Globo e ficam ricos. Os caras ficam ricos! Ricos! Ganham muito dinheiro. O salário de editor dá 10, 12, 15 paus. A única coisa que ele tem que fazer é não apertar muito, se não estraga as bolas do Dr. Roberto e ele não pode ser mais o garanhão que ele é! Quando eu trabalhei na Veja eu tive que dizer para o Dr. Roberto [Civita], a um palmo de distância, o que eu achava disso e daquilo.

Breno Costa – E uma das justificativas que as redações apresentam pra não fazer esse tipo de reportagem é o custo dessas matérias...
Gastei R$ 140,00 para fazer a matéria do Esso. A de Curitiba, estava no caminho, gastei só a passagem. Aí com o dinheiro do Prêmio Esso [R$ 10 mil], gastei quase R$ 7 mil para ir a Paris investigar um caso que aconteceu com um carioca.

Marcelo Salles – A matéria do Felipe Klein [vencedora do prêmio
Esso], você tentou vender pra revista Época, né?

É, eu liguei pro pessoal e
disse: "Olha, eu tenho essa matéria, tô te mandando". Porque eu queria voltar pra grande imprensa, ninguém quer ficar no gueto, num jornalzinho no Bom Fim [Bairro de Porto Alegre], embora ali seja onde eu posso escrever com independência. Não há pressão sobre um jornal pequeno, embora haja pressão dos grandes, que nos tiram das bancas. Ou vocês acham que isso não acontece? Se você botar um jornal pequeno nas bancas do Rio de Janeiro, alternativo, combativo, crítico e independente, O Globo vai lá, passa e diz: "O senhor está vendendo quanto desse jornal aí?" "Dez" "Pô, então faz o seguinte: não vou ocupar espaço na tua banca, me dá O Globo aqui". Tira 200 Globos dele. Aí o cara: "Não, não!" "Então, ou tu vende o meu ou tu vende o dele. Escolhe". É assim que funciona. Aí fica aquele monopólio da informação. A grande imprensa se especializou em "quem, onde, quando, como". "O João matou o Juca no dia 25, exatamente às 13h47". Eles dão aquela coisa certinho. "O governador disse isso". Aí abre aspas e põe uma frase. Agora, o porquê é que ninguém quer explicar. E eles [os grande jornais] sempre cospem para baixo. Eles não atacam em cima. É uma das primeiras coisas que um jornal te diz: "Olha, nós respeitamos as instituições, nós respeitamos as autoridades". Aí nesse caso das bancas, você vai no CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] se queixar. No outro dia, sai uma matéria no Globo, primeira página: "Corrupção no CADE. Cinco conselheiros estão sendo investigados". Aí já tira o caso, entendeu? Eles fazem isso. Tu não tem jornal pra publicar isso. A gente fala entre nós, você publica em um panfletinho, mas a grande mídia silencia sobre isso, fica quieta.



Confira a entrevista completa aqui.
terça-feira, 7 de julho de 2009

Admirável mundo twítico

AH!! Eu não podia deixar de dividir essa. Até
porque sempre fui avesso a famosos em geral. Mas ela falou comigo. Se fosse qualquer outro famoso de twitter/ orkut/ qualquer outra mídia social, eu agiria
normalmente. Mas foi ela. Virtualmente, mas falou. Ganhei o
dia!!!

hhohohohohohoo

Tô bobo.
OK, acabou.
rs



Essa é a reprodução na íntegra do e-mail que enviei para alguns amigos após ver que a Maria Rita tinha respondido um twit que direcionei a ela. Realmente sou avesso à celebridades e artistas que se sintam muito. Mas tenho que reconhecer que alguns deles ainda me causam certa estranheza, não me deixando desvincular totalmente o fã de qualquer outro aspecto. Acredito que seja difícil existir outro fator que possa competir com a imbecilidade-instantânea que ataca os que sofrem do mal de venerar alguém que seja destaque por alguma coisa.
Ao longo da minha breve experiência profissional nunca fiquei balançado com alguma entrevista de maior destaque. No máximo uma vontadezinha de ir ao banheiro antes, mas controlável ao extremo (e provavelmente devido à minha má alimentação cotidiana). Definitivamente não sou do tipo de cara que se impressiona com famosos. Não corro atrás de profissionais renomados após as palestras da faculdade, não fico “tietando”, não tenho tempo nem paciência para isso.
Acho interessante ouvi-los, conhecer as histórias, mas da mesma forma que faria com alguém desconhecido ―no caso de 97% dos famosos, pelos quais eu não nutro nenhum tipo de platonismo, ou seja, não influenciam em nada, não me deixariam ansioso pra entrevistá-los. A diferença é que no caso das celebridades/figuras públicas, eu já tenho uma curiosidade mais objetiva — por conhecer o histórico da persona em questão.


“Tucanizando” a coisa, eu poderia complementar dizendo que 'a subjetividade do indivíduo também finda por influenciar o comportamento do mesmo', mas em suma é que: eu estava ouvindo bastante o primeiro disco dela, que desenterrei de uma pilha de CDs, naquela semana, então, provavelmente por isso, não pensei duas vezes antes de mandar o e-mail pra algumas pessoas mais chegadas.

Vim a público admitir isso, mas das próximas vezes eu garanto que ficarei mais controlado (contanto que o Moska ou o Ryan Adams não me mandem nenhum e-mail...). Podem ficar mais sossegados.



Crime contra o anonimato: mensagem de famosa faz jovem entupir caixa de entrada de e-mail dos amigos


domingo, 31 de maio de 2009

¡El grito!

Em um desses acessos de tentar ser uma pessoa melhor e romper velhas barreiras, decidi escutar “scream”, terceiro disco solo do Chris Cornell (ex-soundgarden, ex-audioslave e atualmente ex-ele mesmo). Para os desavisados, sim, Chris Cornell é aquele cara que parece uma versão gringa do Dinho Ouro-Preto quando está em cima do palco. Deixando de lado comparações infames, desde quando soube que este novo trabalho de Cornell seria produzido pelo Midas do R&B barato, entenda-se Timbaland, eu havia adiado essa audição ao máximo que pude. Pois bem:

Ironicamente, a expressão ‘scream’ traduzida é o que dá vontade de fazer quando você percebe a dimensão da porcaria auditiva à qual você se submeteu.
O disco cumpre bem a função de apresentar em 13 faixas que Cornell oficialmente cometeu um grande erro na carreira. Soa engraçado que todas as produções de Timbaland sejam aclamadas como arrojadas pela crítica-mainstream, afinal a mesma base da música “Apologize” (tocada de forma exorbitante nas fm’s chicletes) serve como modelo para todas — não é exagero, são todas mesmo — as músicas produzidas por ele. De One Republic à Nelly Furtado. É só ouvir e constatar.

"scream"- vontade de produzir algo menos clichê ou de malhar a guitarra no chão de vez?


Ok, o papel do artista é fazer arte, mas convenhamos que esse conceito não se aplica de forma veemente quando o artista já está com mais de 20 anos de carreira. É hipocrisia fingir que o público não espera dele algo que não seja ‘mais do mesmo’ e isso de modo algum quer dizer que o artista seja menor: é isso que ele se propôs a fazer no início de carreira e é isso que as pessoas querem dele. Sem grandes necessidades de mitificar o processo. Não se sabe ao certo se Cornell queria ser mais pop (afinal, já dava indícios discretos dessa vontade nos álbuns solos anteriores) ou se queria fazer algo mais experimental com sua carreira solo, mas o resultado dessa aposta é inegavelmente desastroso.

Fã de Cornell após a audição do novo disco
Não há muitas diferenças entre as faixas e a sensação é de que você está ouvindo a mesma música por diversas vezes, pois os samplers de sons bizarros, os vocais com efeitos que só dizem “iê” entre os pré-refrões e a percussão, que soa mais como batuque, marcada no mesmo compasso são itens presentes em todas elas praticamente. Das que poderiam servir para salvar o disco, somente “Other side of town” e “Climbing up the walls”- que só são as 'menos ruins' porque são as únicas que apresentam um som ‘orgânico’ de bateria e doses homeopáticas de guitarras (mas ainda assim, são guitarras, o que para esse disco soa como um grande feito).
Embora que precisar ser salvo por duas músicas que se encaixam na categoria ‘menos ruim’ não faça parte do feitio dos discos de Cornell, essa é a realidade desse album.

Nota: menos 2 com louvor

Não coloquei links para nada referente ao trabalho novo porque realmente não vale a pena gastar seus bites com isso. Mas para lembrar o Chris Cornell solo dos bons tempos, é melhor ficar com o cover de “Billie Jean” de quando ele ainda mandava bem na hora de organizar o conceito de um disco. No mais, só nos resta rezar para que o bom e velho Chris acorde desse pesadelo.