quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entre o ideal e o possível

Após muito tempo sem postar nada, a vontade de voltar aqui cresceu, proporcinalmente à falta de tempo.

Pois bem, depois de algumas cervejadas homéricas, uns freelas for free, episódios da 5º temporada de Supernatural, fechamento de alguns Cadernos de Programação, eis que chega o 4º bimestre na faculdade para me colocar mais perto de ser um formando em jornalismo. Como prova de uma disciplina, tive que fazer uma matéria falando sobre o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Estava nas minhas mãos seguir o enunciado da única questão e fazer uma coisa sem sentido de até 30 linhas (sim, uma pseudo matéria de até 30 linhas), ou fazer algo que fosse mais instigante -ainda mais para colocar a consciência de quem faltou bastante às aulas em dia.

Como resultado surgiu o texto abaixo e um tipo de satisfação besta, mas, ainda assim, satisfação.




Entre o TCC ideal e o possível


Bicho de sete cabeças para os pouco íntimos ou realização de uma etapa que atesta a maturidade desenvolvida pelos alunos para os mais acostumados, o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) se torna parte da realidade para os acadêmicos dos últimos anos dos cursos de graduação e culminam no tão aguardado momento: a apresentação.
O desenvolvimento do projeto acaba interferindo diretamente nas rotinas dos acadêmicos por quase um ano, e, ao final do período, os trabalhos são submetidos à avaliação de uma banca examinadora, que dirá, em números, qual grau de profissionalismo o aluno atingiu.
“Levantei, me benzi e tomei um café da manhã reforçado para não desmaiar”, conta o graduando em jornalismo, Gabriel Câmara, sobre seu ritual para a manhã em que apresenta o TCC.

Faltando menos de uma hora para dar início à exposição à banca, ele, com postura contrária ao estereótipo de aluno ansioso diante de um momento decisivo, exibe o documentário “Profissão Roadie” – dedicado aos trabalhadores que auxiliam no carregamento, afinação e manutenção dos instrumentos e aparelhos utilizados em shows –, realizado em parceria com o amigo Gilmar R. Silva, para uma pequena platéia, composta por amigos e curiosos.

Após 30 minutos, o outro autor do documentário sobre os profissionais dos backstages, Gilmar R. Silva, retorna à sala depois de ter saído para imprimir o material que seria disponibilizado para a comissão examinadora. “Me esqueci da água”, lembra em voz alta e, quase imediatamente, retorna colocando três garrafas de água mineral sobre a mesa. “Não dormi mais que três horas esta noite. Quero que comece logo e não quero errar”, diz entre ironia e sinceridade, enquanto se concentra para os minutos seguintes. Mais agitado, mas nem por isso menos focado que seu parceiro, Silva se retira do auditório onde o filme é exibido.

A menos de cinco minutos para iniciar o momento que divide o fim da expectativa gerada pelo tempo de trabalho com o pouco que resta da condição de universitário, Câmara revela um pouco sobre a apresentação. “Ensaiamos duas vezes em duas horas, o que denuncia que a apresentação está um pouco longa”.
Luzes apagadas, auditório cheio, trailer em exibição: o rosto de Gilberto Gil com quase dois metros no telão explica qual a importância de um roadie nas equipes que realizam as montagens de shows. Em seguida os próprios profissionais dando depoimentos sobre a vida na estrada – boa parte fala enquanto trabalha em meio aos cases e fios que compõem o cenário de atuação destes profissionais – e fim do trailer. Com a apresentação fluindo sem tropeços e com riqueza nas descrições dos detalhes, inserem José Carlos Sebe Bom Meihy e Glauber Rocha para embasar o documentário.

Afinado com o mercado jornalístico, o discurso dos graduandos mostra a preocupação com o ato de ir além de um trabalho acadêmico, quando eles revelam que o documentário, por se tratar de uma obra inédita sobre um tema praticamente inexplorado, será disponibilizado no site de vídeos Youtube no dia seguinte e, que, devido a esta ação responsável por transformar o TCC em um documentário de mercado, o trabalho já havia recebido recomendações em dois importantes veículos sobre música: no site da revista Rock Press, e no blog do editor do potencial maior site de cultura POP do País, o Scream&Yell, mantido pelo jornalista Marcelo Costa.

O evento segue com as considerações da banca, agradecimentos dos graduandos e um subentendido mal estar do público presente que discordou das falas e sugestões feitas por um dos professores. Fica então definida como nota oficial da dupla o valor 9,4, o que os distancia da sonhada nota dez no TCC, porém explicita como as questões relativas ao Trabalho de Conclusão de Curso funcionam na prática. “O TCC é mais que uma nota, é um trabalho para o qual você se dedica de verdade”, diz Silva, que ainda ressalta o dez, mesmo que simbólico, recebido de um dos membros da banca em meio a um abraço dado após a apresentação. "A gente até ganhou um dez simbólico, ao pé do ouvido, de um dos membros da banca.Mas no final quando você para e vê o tanto de gente que comprou o projeto e torceu pra você, a nota acaba sendo só mais um detalhe".


4 comentários:

João Pedro disse...

Que prazer ler um texto seu, Fábio. Não conhecia o seu blog.
Seguir o enunciado ou fazer algo mais intrigante é uma dúvida cruel e constante na vida dos jornalistas, não?
Pra mim seguir o enunciado, trilhar o caminho do óbvio, só traz arrependimento e mediocridade. E pessoas medíocres são amargas justamente por estarem sempre andando na risca, seguindo o enunciado, sonhando em arriscar-se um pouquinho mais.
No seu caso, com o potencial que você apresenta, fico feliz em saber que sua escolha é de não ser passivo.
Tenho certeza que em breve teremos um ótimo profissional no mercado.
Abração!

Anônimo disse...

Passando só pra matar um pouco as saudades (dos textos e do amigo)... Ah, instigante é pouco pra definir o seu texto sobre o TCC. Só uma crítica: cheguei ao fim do texto e pensei "poxa, já acabou?!"
Abraço!!!
Juliana

Carol - lol disse...

Mais uma vez, quando eu achava que vc já havia me surpreendido o suficiente por, no mínimo uns 10 anos, vc me surpreende de verdade - MARAVILHOSO o texto, as definições, as colocações... enfim, TUDO.

Vc escreve muito bem e sabe disso!

Saudades de partilhar de momentos tão acadêmicos e ao mesmo tempo infantis, que o nosso curso proporciona. Espero que volte LOGO para o noturno, porque as aulas de Teoria não tiveram a mesma graça o ano passado.¬¬

Sou dos Poetas disse...

Adorei seu texto. Se puderes dê uma passada em meu blog também: http://mentedosinvalidos.blogspot.com/ Valeu!

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